PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO DIA 30/07/10

O corpo franzino, as manobras ágeis, a tez negra e o manto ora branco, ora alvinegro, fazem lembrar o Rei. O palco de onde o outro sucessivas vezes saiu coroado é a mesma Vila Belmiro, catedral acostumada a testemunhar as ovações a seu ídolo singular como só é possível fazer quando se testemunham os milagres de um deus universal. As coincidências terminam aí. Neymar não é Pelé. Neymar jamais será Pelé. Supliquemos para que Neymar consiga, ao menos, vingar como ele mesmo no difícil e competitivo mundo do futebol. Isso já seria suficiente, pois Neymar promete vir a ter futebol de craque, apesar de insistir em revelar nos últimos meses um espírito de bobo e um comportamento de moleque irresponsável. Visivelmente decepcionado por não ter ido à Copa da África, Neymar fez cair sua produção dentro de campo nas rodadas de limbo entre a convocação mal sinada de Dunga e a interrupção do Brasileirão e da Copa do Brasil para que o mundo do futebol voltasse os olhos e as energias para o Mundial sul-africano. Nesse período, a promessa de craque santista deu algumas entrevistas polêmicas, confessou que, aos 18 anos - e apesar de ter na garagem um Volvo XC-60, automóvel para lá de potente e bastante para alguém de sua idade -, sonha em comprar a primeira Ferrari e o primeiro Porsche. Revelou ainda não ter qualquer conhecimento da história do futebol e de como jogavam e se comportavam aqueles que o antecederam no posto de craques ou de promessas de craques.

Neymar lamenta o pênalti perdido

Anteontem, na primeira partida da decisão da Copa do Brasil entre Santos e Vitória, Neymar constituiu-se em campo numa sombra pálida de si mesmo. É verdade que converteu em gol um lançamento precioso. Gol feio, de barriga, mas gol. Fora isso, sofreu um pênalti em jogada pessoal. Designado para a cobrança, entregou o ouro e fez com que se acendessem todos os alarmes: tentou uma cavadinha à Zidane, à Loco Abreu, porém protagonizou um lance bisonho em que parecia recuar a bola para o bom goleiro Lee. Displicente, irresponsável, desfocado, Neymar titubeou dois segundos antes de compreender que os craques não nascem craques - conquistam o direito de ser craques. E essa conquista é fruto de caminhadas sempre árduas. De reflexões profundas sobre o papel da liderança. Um pouco mais velho que ele, Paulo Henrique Ganso, 21 anos, já tem essa compreensão. Pelé, com os mesmos 18 anos de Neymar, já a tinha em 1958. Se quisermos usufruir em 2014 dessa geração promissora do Santos de 2010, sobretudo de Neymar, precisamos correr em compreender que as estrelas que insistem em nascer nas nossas divisões de base precisam de um trabalho urgente de formação e formatação psicológica. Esse menino do Santos pode vir a ser tão bom quanto foram Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho ou até Reinaldo. Mas se o deixarem trilhar sozinho o caminho da fama à glória pode ser que termine por pegar um atalho e jamais encontre o que o levará à eternidade, ao panteão de nossos semideuses. Um garoto de 18 anos que despontou ontem para o futebol não tem o direito de esconder-se sob alegações de má fase em sua primeira temporada como profissional. Um craque de verdade jamais refuga. Neymar tem uma final pela frente - quarta-feira, em Salvador - e um jogo da Seleção em 10 de agosto para provar que tem chances de vingar. Que faça isso, ou que Mano não titubeie em considerá-lo a primeira pedra não lapidável para a sua coroa de joias que terão de chegar nos cascos à Copa no Brasil.

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